Apesar de estarmos em 2019 e a pauta sobre mulheres na liderança ainda precisar ser discutida, temos tido muitos avanços e quebrado paradigmas. A luta pela igualdade de gênero na sociedade tem se intensificado e, para ilustrar como mulheres tem ocupado seus lugares no mercado de trabalho, buscamos algumas lideranças femininas e fizemos três perguntas:
- Quais as principais barreiras você enfrenta no seu papel?
- Quais atitudes suas tem contribuído para quebra-las?
- O que significa um ambiente favorável para mulheres liderarem?
O resultado das entrevistas não foi nada menos que inspirador. Confira abaixo!
As barreiras culturais existem e precisam ser quebradas
Gihana, sócia da E-dialog, agência de marketing digital reconhecida entre as melhores do país, conta um pouco sobre suas experiências na liderança da empresa: “acho que vem muito do que a sociedade coloca como “normal” ser o papel da mulher: frágil, sensível, submissa. Podemos ter diversos papéis e características, mas também podemos ser fortes, objetivas e líderes. E, nesse segundo caso, quando nos colocamos nesses papéis, há um estranhamento das pessoas. Eu já vivi casos profissionais em que minha roupa ou aparência foram colocadas como mais importantes do que minha competência. Reuniões nas quais minhas opiniões e ideias tinham um peso menor do que as dos homens. Pessoas que acreditam que meu sócio tem mais influência na empresa do que eu apenas por ser homem, sem nem antes conhecerem meu trabalho, minha formação”
Maíla Issa, Management Consultant na Falconi, também ilustra que já passou por diversas situações onde teve um bom trabalho reduzido a sua aparência: “É muito difícil as pessoas acharem que a sua competência está atrelada ao fato de você ter atributos físicos (…). A principal dificuldade é a gente precisar ficar se provando o tempo inteiro. Isso me incomoda. A gente precisa trabalhar 5 vezes mais pra ser reconhecida no mesmo nível que um homem.”
“Já escutei: é porque você é bonita; é o charme; você é sedutora” – Maíla Issa
Carolina Utimura, COO da Eureca, consultoria especializada em juventude para áreas de RH e Marketing, conta como alguns vieses tornam carreiras mais difíceis para as minorias: “a primeira vez que senti isso muito forte foi antes de entrar no mercado, quando me tornei Presidente Executiva da Brasil Júnior, organização sem fins-lucrativos que representa mais de 20 mil universitários brasileiros. Fui a segunda mulher a assumir esse cargo em 14 anos da organização. Meus maiores desafios como mulher não estavam nela (por sua cultura íntegra e justa), mas com os stakeholders que eu me relacionava com a frente de relacionamento institucional. Eu era a única mulher de muitas reuniões, de muitos encontros e, principalmente, de muitas mesas de abertura de eventos. É onde você canaliza a solidão em vontade de abrir a porta e puxar outras mulheres.”
O primeiro passo é tomar consciência que os obstáculos existem. Mas, mais que isso, é essencial assumir a responsabilidade de mudar a realidade.
Que tal entender mais sobre o assunto lendo o artigo: “O que todo mundo deveria saber sobre liderança feminina“?
Como elas tem feito a diferença?
Apesar desse cenário, todas elas tem buscado contribuir para muda-lo. “A área comercial é bastante masculina na maioria das organizações, muito pelo esteriótipo do “bom vendedor”, alguém super seguro de si, agressivo e persuasivo, que ainda tem muita gente relacionando ao perfil somente dos homens. Eu escolhi ir para o lado ao contrário. Quis fazer do meu jeito, em uma linha muito mais empática, de escutar e ter a vontade genuína de ajudar, e quer saber? Tem dado muito certo, dobramos no número de clientes em 1 ano. De vez em quando, ainda tem mesa que eu sento e já duvidam de mim simplesmente por ver uma mulher e jovem querendo vender algo, o que eu faço é dar “carteirada” sobre tudo que eu já fiz em pouca idade e preencher esse gap com muito estudo”, conta Carolina.
“Eu escolhi ir para o lado ao contrário. Quis fazer do meu jeito, em uma linha muito mais empática, de escutar e ter a vontade genuína de ajudar, e quer saber? Tem dado muito certo, dobramos no número de clientes em 1 ano” – Carolina Utimura
Gihana conta que na E-dialog não há diferença salarial por gênero ou predileção por selecionar um projeto para alguém por ser homem ou mulher e que busca sempre empoderar mais mulheres: “eu tenho tentado me desenvolver mais em termos de autoconhecimento, trabalhar meus pontos fracos, potencializar os fortes. Porque quando há essas barreiras que querem te deixar mais insegura no papel de estar à frente de uma empresa. Conhecer mais sobre si mesma é algo que fortalece. Quanto mais eu entendo quais são minhas ambições e metas como líder, acho que me torno uma profissional mais forte. E exercendo o papel de líder dessa forma me sinto mais segura e preparada para inspirar as pessoas”.
Maíla, como consultora, lida com muitos clientes e lideranças do sexo masculino e relata como mudou sua postura: “quando eu era mais nova, eu levava as coisas no bom humor. Hoje, eu lido com esse tipo de comentário (a respeito de elogios a aparência física) de maneira muito mais séria. Se é algo dentro da minha empresa, eu converso, digo que não aceito esse tipo de comportamento. Hoje a minha postura é muito mais confrontadora do que era antes.”
Para transformar essa realidade, também acreditamos que um fator é essencial: o ambiente de trabalho.
O que é um ambiente de trabalho favorável para incentivar lideranças femininas?
As empresas precisam fornecer estruturas para possibilitar que as mulheres conciliem tudo que quiserem fazer. Maíla afirma: “pra mim, um ambiente favorável para as mulheres liderarem é onde elas são respeitadas pelas suas escolhas. Se eu quero ter família, é preciso ter mecanismos que me permitam continuar no mercado de trabalho e competindo de igual para igual. (…) Eu não quero ter que escolher entre ter família e trabalhar. Eu quero os dois: como a empresa pode me ajudar a fazer isso?”.
Gihana acredita na importância da diversidade para a inovação e crescimento das empresas. “Para chegar nisso não é fácil. Todo o time e principalmente a gestão devem estar comprometidos. A empresa tem que ter valores claros para que as mulheres se identifiquem com as políticas da empresa e ocupem seus espaços. Parece muito óbvio ou simples, mas até mesmo quando as políticas das empresas são formuladas pelos homens, elas acabam excluindo a ótica das mulheres. Seja de maneira mais direta como nas questões de licença maternidade, por exemplo, mas até mesmo deixar claro um plano de carreira para todos possam percorrer suas trilhas na empresa de maneira igual”.
Quando as políticas das empresas são formuladas pelos homens, elas acabam excluindo a ótica das mulheres. – Gihana Fava
Carolina reforça a importância da cultura em um local “que proativamente busque “curar” seus colaboradores através da sua cultura organizacional e liderança. Elevando a consciência de seus colaboradores (da base ao CEO) sobre a equidade de gênero e que assim também traz ao mundo cidadãos mais conscientes e protagonistas pela luta por igualdade de gênero!”.
Para mudar a situação, não acreditamos em uma grande mudança vinda de poucas pessoas, salvadores da pátria. Nossa crença é que uma grande mudança nada mais é do que a soma de pequenas transformações diárias feitas por pessoas que decidem ser agentes dentro das suas organizações, sejam elas quais forem. Espalhe também essa causa 🙂
Maria é fascinada por liderança. Entrou no IEEP com o objetivo de desenvolver e aprimorar o Programa de Lideranças e hoje atua na equipe de produto desenvolvendo soluções também em cultura ágil em prol de fortalecer organizações em um mundo onde a única certeza é a mudança. Apaixonada por aprender através da prática e do compartilhamento de experiências, acredita muito na capacidade do ser humano de evoluir e que as habilidades e competências de ninguém são escritas em pedra.